P R E F
Á C I O
Meu
caderno não mente – O diário de Heloísa é uma das recentes publicações destinadas a
se tornar um clássico de nossa literatura. Mesmo que a afirmação possa parecer
pretensiosa, não penso em outra afirmação para expressar a minha visão de
futuro da obra. O livro não foi apenas escrito, foi pensado e repensado nos
seus mínimos detalhes. Cada parte da história tem profunda e cautelosa
racionalidade que é característica das obras da autora, uma característica que
se aprimora dentro de um elegante estilo romanesco.
A história é fruto de um diário imaginário
escrito por três mãos: a de Heloísa, a de Lener e a de Nicole. A estrutura da
obra respeita a ideia de um diário. A riqueza dos detalhes, as longas
descrições, a forma íntima das narrativas, os complementos posteriores das
narrativas, e a sensação que temos na leitura de uma história que não se
desenvolve, mostram a estrutura de um diário retocado, no qual se tenta
justificar as atitudes de um drama amoroso vivido por cinco personagens: Júlio
Alcântara, Heloísa, Geraldo, Lener e Nicole. Os personagens, apesar de terem
seus sentimentos bem direcionados, têm ao longo da trama um entrelaçamento dos
seus sentimentos, resultando em um complexo relacionamento amoroso.
No contato com a história o leitor não deve
desprezar as minúcias das narrativas, pois são momentos fortes da obra e
instrumentos usados pela autora para nos fornecer informações precisas sobre os
diálogos, às vezes truncados, dos vários personagens que compõem o enredo da
trama. É interessante observar que Heloísa
sempre se refere à Nicole em propositais substantivos diminutivos, cujos
sufixos são usados de jeito a revelar seu desprezo por Nicole (-inha,
-zinha...), por exemplo, quando ela classifica Nicole de batutazinha do demo, tudo para convencer, talvez, não somente a
Lener, da insignificância que Nicole lhe parece ter, mas também aos leitores
dele, de que a condição de Nicole no mundo deveria estar sujeita a mais baixa
das posições, e uma das grandes frustrações de Heloísa é justamente a de ver
Nicole, hierarquicamente, acima dela, como sua patroa a “dona patroinha”.
A criatividade de construção dos personagens
é uma das grandes particularidades da obra. O leitor precisa mergulhar no
ideário da autora para perceber o direcionamento que ela quer dar à sua trama.
Na obra, nenhum personagem aparece por acaso; de uma forma ou de outra todos os
personagens contribuem para a coluna mestra da obra, uma grande prova da visão
geral e particular que a autora tem do seu trabalho.
Heloísa é uma mulher comum, um coração aberto
que se deixou fisgar por um amor platônico e proibido. O descuido de um
distraído coração coloca Heloísa como a principal preocupação do enredo.
Heloísa não é uma pessoa má, é simplesmente uma mulher apaixonada, e como todo
amor não correspondido, perde o direcionamento de ação, realizando infinitas
ações que a colocam como vilã de uma história de amor profundo.
O enredo tem como protagonista a personagem
Nicole, forte, marcante, inteligente, habituada ao sofrimento. Nicole se
caracteriza como o modelo de mulher que é o sonho de todo homem; vive um
relacionamento com Júlio Alcântara, homem rico, justo e apaixonado, capaz de
fazer grandes sacrifícios para proteger sua família. Júlio representa o ideal
de homem das mulheres. O relacionamento entre Júlio e Nicole é o modelo ou pelo
menos o sonho de todo casal. Na verdade, entre os dois há uma compatibilidade
que pode ser caracterizada como transcendental, uma espécie de empatia
espiritual que proporciona uma unidade na multiplicidade, isto é, mesmo sendo
dois, a empatia é tal profunda que os dois conseguem ser um, sem deixar de ser
dois.
A própria estrutura física do livro permite
que o leitor teça reflexões, senão vejamos: a capa do livro é propositalmente
impressa na cor vermelha, aludindo ao Diário
de Heloísa, que é descrito como caderno
vermelho. O livro que Nicole supostamente escreve, pelas mãos de Maria
Montillarez, tem traços de relato, réplica, tréplica... de modo que todos os
envolvidos estão esquematizadamente em seus postos para a hora X de entrarem em
cena.
Sou Filósofo, mas ouso dizer que li O Meu Caderno não Mente — O Diário de
Heloísa classificando-o como romance, cujos personagens têm seu núcleo em
Nicole e Júlio. Heloísa é coadjuvante; infeliz cacto que ousou nascer no meio
de um campo de rosas. É previsto seu destino, e o leitor vai segurando o
fôlego, quase com medo de qual seja ele.
Ainda sobre a estrutura do livro, pode-se
dizer que a história se inicia no capítulo III, NICOLE – PARTE 21, e, por
“maestria poética” (não achei outro modo de dizer), Maria Montillarez, perdão,
Nicole, faz o leitor retomar a LENER – PARTE 1, para emendar e dar lógica ao
cerne da trama. O leitor de obras anteriores desta autora já deve estar
habituado ao estilo inversivo de Maria Montillarez. Estão aí Colar de Pérolas, O Pingente, Colar de Pérolas & O Pingente, e Os amigos de sempre provando que esse
estilo Maria Montillarez, ao invés de confundir, clareia e diverte. A
contemporaneidade literária suplicava pelo novo — ei-lo!
O livro é uma leitura interessante, pois em
um momento de aparente crise do amor, ou seja, em um momento em que as pessoas
se entregam ao amor com reservas e desconfianças, o livro procura demonstrar o
verdadeiro amor, ou pelo menos o amor que as pessoas esperam receber umas das
outras. Todos os personagens envolvidos diretamente na trama amorosa amam
intensamente; são personagens que raciocinam pelo coração, todos eles vivem o
mais alto nível do amor e da realidade altruísta.
Meu
Caderno não Mente – O diário de Heloísa é um livro para ser lido com a inteligência
emocional, buscando viver um sonho que na realidade ou na vida real é a
motivação que alimenta as relações de todos os verdadeiros mortais.
Vivamos a realidade, envolvidos pelo
sonho-realidade da fantasia. A dor mortal de todo ser humano não é sonhar
sonhos impossíveis, mas não achar as coisas impossíveis para sonhar.
Ernandes Reis Marinho é
Vice-Presidente da Academia Samambaiense de Letras-ASAS/DF, Pró-Reitor das
Faculdades Integradas Facitec/Estácio-DF, Doutor em Filosofia.
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